O que eu faço e não percebo: a cegueira da minha ignorância

Artigo de Opinião
A personalidade é um dos fatores mais influentes no comportamento de um indivíduo, especialmente no ambiente de trabalho. Certos traços, como o egoísmo e o orgulho, podem prejudicar a imagem de uma pessoa, criar tensões nos relacionamentos interpessoais e afetar diretamente o desempenho profissional e o coletivo. Esses vícios morais, muitas vezes imperceptíveis para quem os pratica, podem resultar em perdas significativas, tanto em oportunidades quanto em relações. Neste emaranhado de ideias, exploraremos como o autoconhecimento, a empatia, a inteligência emocional e a ética podem transformar comportamentos destrutivos e abrir caminhos para o sucesso sustentável.
Na largada, é preciso destacar os conceitos de egoísmo e o orgulho, que como vícios morais, estão profundamente entrelaçados com valores e princípios éticos que moldam nosso comportamento e as relações interpessoais. Quando esses anti-preceitos se manifestam, suas consequências vão além do comportamento individual, influenciando as emoções e sentimentos das pessoas ao nosso redor. Mesmo que essas dinâmicas não sejam sempre percebidas de forma consciente, o egoísmo pode gerar ressentimento e frustração nas interações sociais, enquanto o orgulho excessivo pode levar à arrogância e à desvalorização das contribuições dos outros.
Ou seja, orgulho e egoísmo são bases de todos os demais vícios morais, dando margem a diversos comportamentos inadequados. Esses vícios podem se manifestar de várias maneiras, desde atitudes sutis até ações claramente prejudiciais, afetando a dinâmica social e a colaboração em grupos. Portanto, é essencial reconhecer e abordar essas raízes morais para promover um comportamento ético e saudável, capaz de fomentar a empatia e a solidariedade nas interações humanas.
No propósito de continuar esclarecendo os termos aqui expostos, a personalidade pode ser definida como o conjunto de características psicológicas que influenciam o comportamento, pensamentos e emoções de um indivíduo. Essas características se desenvolvem ao longo da vida, especialmente durante a infância, um período fundamental em que as experiências e os relacionamentos moldam as bases da personalidade. A forma como as crianças são criadas, os valores transmitidos pelos pais, as interações sociais e as circunstâncias ambientais desempenham um papel significativo na formação de traços como a empatia, a autoestima e a resiliência. Assim, um ambiente familiar saudável e o apoio emocional são fundamentais para que a criança desenvolva uma personalidade equilibrada e positiva.
Enfrentar problemas e lidar com frustrações é uma parte essencial do crescimento e da maturidade emocional. A maneira como um indivíduo responde a desafios e rejeições durante a infância pode determinar sua capacidade de enfrentar adversidades na vida adulta. A negação de emoções e a resistência em confrontar as más tendências, como o egoísmo e o orgulho, podem levar a comportamentos prejudiciais e a dificuldades nos relacionamentos.
Portanto, desenvolver habilidades de enfrentamento e promover uma mentalidade reflexiva são imprescindíveis para a formação de um adulto com maturidade emocional e cognitiva, capaz de navegar pelos desafios da vida com empatia e integridade.
As derivações Sorrateiras do Egoísmo e do Orgulho
O egoísmo e o orgulho possuem múltiplas facetas e muitas vezes se manifestam de maneira sutil, camuflados em comportamentos que, à primeira vista, podem parecer inofensivos ou até virtuosos. O egoísmo, por exemplo, pode surgir na forma de uma constante necessidade de destacar as próprias conquistas, muitas vezes sob o disfarce de "autoestima elevada" ou "autopromoção". Embora seja natural querer reconhecimento, o excesso de foco em si mesmo pode negligenciar as necessidades dos outros, criando um ambiente onde o bem coletivo é secundário.
Uma faceta sorrateira do orgulho se revela na dificuldade de aceitar críticas ou de admitir erros. Uma pessoa orgulhosa pode se recusar a ouvir conselhos ou feedbacks, acreditando que seu julgamento é infalível. Esse tipo de orgulho muitas vezes se disfarça de autoconfiança, mas, na verdade, impede o crescimento pessoal e profissional, já que a pessoa fica presa à sua própria visão limitada. Outra forma comum de orgulho é a competição excessiva, na qual o indivíduo busca constantemente se destacar em detrimento dos outros, priorizando sua própria imagem acima do bem-estar coletivo.
Esses traços também se manifestam em atitudes aparentemente altruístas, como quando uma pessoa ajuda os outros, mas apenas para obter elogios ou reforçar sua superioridade moral. O egoísmo e o orgulho se escondem em comportamentos que podem passar despercebidos, mas, quando não identificados, corroem relações e sabotam oportunidades de crescimento e colaboração.
O Papel Destrutivo do Egoísmo e do Orgulho no Ambiente Corporativo
O egoísmo e o orgulho são dois vícios morais que podem sabotar a carreira de um profissional. O egoísmo, que coloca as necessidades individuais acima das coletivas, leva ao isolamento e à competição desleal. Já o orgulho, ao criar uma autopercepção exagerada, impede que o indivíduo reconheça suas falhas e se abra para o feedback, gerando resistência à mudança e ao aprendizado contínuo.
Esses comportamentos afetam diretamente a dinâmica das equipes. Líderes que agem de forma autoritária e centralizadora, por exemplo, acreditam que possuem todas as respostas e desconsideram as contribuições de seus colaboradores. Isso desmotiva a equipe, inibe a inovação e compromete os resultados organizacionais. A falta de empatia e a ausência de um pensamento coletivo criam um ambiente tóxico, no qual o desempenho é prejudicado e as oportunidades de crescimento são desperdiçadas.
Autoconhecimento: O Primeiro Passo para a Transformação
Para corrigir esses comportamentos nocivos, o primeiro passo é o autoconhecimento. Ferramentas como a Janela de Johari, desenvolvida por Joseph Luft e Harrington Ingham, ajudam a identificar aspectos da personalidade que permanecem invisíveis para o próprio indivíduo, mas que são perceptíveis aos outros. Através da combinação de feedback e autoavaliação, é possível identificar traços de egoísmo e orgulho na chamada "área cega" da janela, possibilitando que esses comportamentos sejam corrigidos.
Na intenção de ilustrar um quadro em que mostre exatamente o que estamos discutindo, podemos citar quando um colega de trabalho participa de uma reunião de equipe e, sem perceber, monopoliza a conversa, interrompendo os outros constantemente para expressar suas opiniões. Durante toda a discussão, ele acredita que está sendo proativo e brilhante, oferecendo ideias que, em sua visão, são indispensáveis. No entanto, seus colegas demonstram sinais claros de desconforto, como cruzar os braços, evitar contato visual e responder com monossílabos. Ao fim da reunião, o colega sai satisfeito com sua participação, achando que fez uma grande contribuição, sem perceber que irritou e desmotivou o grupo. Esse tipo de comportamento, fruto da falta de autopercepção e empatia, pode prejudicar a harmonia da equipe, minando a colaboração e gerando tensão no ambiente de trabalho.
A cegueira diante de nossas próprias ações pode ainda minar a confiança dos colegas e limitar oportunidades de crescimento. Esse tipo de desconexão entre a intenção e a percepção dos outros não só afeta o ambiente profissional, mas também impacta negativamente outras áreas da vida, como os relacionamentos pessoais e o desenvolvimento individual, perpetuando erros que podem ser evitados com um olhar mais atento e reflexivo.
O livro "Sucesso Existencial" aborda essa questão em profundidade, incentivando os leitores a praticarem o autoconhecimento e a empatia. A obra sugere que o verdadeiro sucesso está em equilibrar a realização pessoal, a contribuição para o bem comum e criação de conexão com o sagrado. O autoconhecimento é, portanto, essencial para identificar e superar vícios morais, promovendo relações mais saudáveis e interações mais produtivas.
Inteligência Emocional: A Chave para Relacionamentos Saudáveis
O desenvolvimento da inteligência emocional é outro fator determinante para a transformação de comportamentos negativos. Segundo Daniel Goleman, a inteligência emocional envolve a capacidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções, bem como compreender e influenciar as emoções dos outros.
Empresas que valorizam a empatia e incentivam a inteligência emocional em seus líderes e colaboradores colhem os frutos de um ambiente mais colaborativo e produtivo. A Google, por exemplo, é conhecida por promover uma cultura de feedback contínuo, escuta ativa e empatia. Essa abordagem, que estimula a colaboração e o pensamento coletivo, contribui diretamente para o sucesso da empresa, onde a inovação e o desempenho individual estão alinhados com os objetivos do grupo.
Um outro exemplo prático é caso de Steve Jobs, fundador da Apple, uma história conhecida no mundo dos negócios. Jobs foi amplamente reconhecido por sua visão inovadora, mas também criticado por comportamentos considerados agressivos e autoritários, que, em muitos momentos, prejudicaram seus relacionamentos profissionais e afastaram talentos. Ele só foi capaz de reverter parte desse impacto quando começou a desenvolver maior inteligência emocional, ajustando suas interações e tornando-se mais receptivo ao feedback.
A prática da empatia permite que os profissionais entendam as necessidades e perspectivas dos outros, o que cria laços de confiança e colaboração. Além disso, quando a ambição é orientada por uma ética que valoriza o bem-estar coletivo, os resultados individuais também são ampliados, uma vez que o ambiente de trabalho se torna mais saudável e motivador.
A Importância da Leitura Corporal e da Percepção do Outro
Um aspecto muitas vezes negligenciado no comportamento profissional é a percepção do outro. Além de desenvolver o autoconhecimento e a inteligência emocional, é essencial estar atento à linguagem corporal e às reações dos colegas de trabalho durante as interações. Albert Mehrabian demonstrou que 93% da comunicação humana é não-verbal, sendo 55% composta por expressões faciais e gestos. Isso significa que estar atento às reações dos outros—como postura, expressões faciais e tom de voz—pode revelar se o comportamento e o conteúdo da comunicação estão sendo bem recebidos.
Frequentemente, sinais de desconforto ou desinteresse, mesmo que sutis, indicam que algo na sua abordagem não está alinhado com o que é esperado. Profissionais que ignoram esses sinais correm o risco de prejudicar suas relações e oportunidades. No entanto, ao praticar uma escuta ativa e estar atento à comunicação não-verbal, é possível ajustar o comportamento e criar interações mais positivas.
Conclusão
A vivência de experiências complexas na infância e adolescência é determinante para a formação de uma personalidade sólida e equilibrada. Situações desafiadoras, quando acompanhadas de apoio emocional e orientação adequada, ajudam a moldar a capacidade de enfrentar adversidades, lidar com frustrações e desenvolver maturidade emocional. Esses momentos críticos, ainda que desconfortáveis, são essenciais para a construção de resiliência, autonomia e discernimento. Ao aprender a superar obstáculos e a reconhecer as próprias limitações desde cedo, o indivíduo adquire habilidades fundamentais para navegar os desafios da vida adulta com inteligência emocional e integridade, tornando-se um adulto apto a lidar com as exigências do mundo com equilíbrio e ética. Assim, o amadurecimento consciente é o alicerce para um sucesso existencial genuíno, onde a autorrealização caminha lado a lado com a responsabilidade social e o crescimento coletivo.
Muitas vezes, somos guiados por comportamentos automáticos e padrões inconscientes que não percebemos, mas que afetam profundamente nossas relações e decisões. Atitudes egoístas, resistências ao feedback e reações impulsivas podem passar despercebidas por nós mesmos, enquanto causam impactos negativos no ambiente ao nosso redor. A falta de percepção dessas ações limita nosso crescimento e perpetua ciclos de insatisfação e conflitos. Portanto, a reflexão contínua sobre nossos atos e a busca por feedback genuíno são essenciais para revelar esses pontos cegos. Apenas ao nos tornarmos conscientes do que fazemos inconscientemente, podemos promover mudanças reais e transformar nossos comportamentos em oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal.
André Silva
Sobre o Autor:
Empresário, Administrador da Secretaria de Estado de Saúde – SES/DF, Diretor Financeiro do Instituto Agrovida Goiás, Presidente do Conselho Fiscal da AES/SES-DF, escritor, poeta e autor dos livros Sucesso Existencial, Bússola do Propósito de Evolução e Tutorial Definitivo do Primeiro Emprego, Consultor Organizacional da Adsumus, atuou como Consultor de Negócios do SEBRAE/DF, como Analista de Planejamento e Orçamento no Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - SESCOOP, foi Professor de Administração da UNOPAR, Axiomas Brasil e Virtuosa Cursos, exerceu o cargo de Administrador e Pregoeiro Oficial do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 11ª Região – CREFITO 11, graduado em Administração pela Universidade Católica de Brasília, Especialista em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, Especialista em Gestão da Clínica pelo Instituto do Hospital Sírio Libanês e Especializando em Liderança e Desenvolvimento de Equipes pela CENES/PR.